Não se deixe enganar pelo
título clichê da edição brasileira (The
breaking of eggs, no original). Longe de ser um romance pastelão, a obra de
Jim Powell é uma ótima pedida. Em tempos de discussão política como a que
vivemos recentemente no Brasil, esta é uma leitura recomendada para quem gosta
de não só de análises politicas, mas de saber como elas foram moldadas ao longo
da História.
Comunismo, Capitalismo,
Guerra Fria, Nazismo, Guerras Mundiais, estes são alguns dos eventos do século
XX abordados neste romance. A vida do protagonista é traçada como um interessante
paralelo à história do Muro de Berlim.
Mas, mais do que uma
verdadeira aula de história que nos leva a refletir que papel damos à política
em nossas vidas, que partido tomamos diante do que nos é posto na vida social e
até que pontos escolhemos nossas amizades de acordo com nossos posicionamentos
políticos, “Arriscar é viver” é um belo retrato de solidão, família, traição,
amizade, e de tantos outros paradoxos da vida.
Não vou falar mais nada para
não perder a graça. Vai um trecho para matar a curiosidade. Não se limitem a
isso. Vão ler e emocionar-se (ou não) como eu. Aceito debates sobre a leitura
depois. Para quem está com o orçamento apertado, vai uma dica: A seção
circulante da Mário de Andrade tem o livro disponível para empréstimo. Foi lá
que encontrei este tesouro.
“Acho
que existem dois tipos de história. Há história dos grandes eventos, a marcha
do progresso científico, o embate de ideologias, guerras e desastres. Depois
existe a história que é vivida por milhões de pessoas, em toda a Europa, em
todo o mundo. A história dos nascimentos de crianças choronas, da infância
inocente e da adolescência rude, a perda da inocência, do amor e sua evaporação
lenta, de trabalho e salários, do casamento e família, da morte. E nenhum dos
grandes eventos, por mais assombroso, destrói a crônica da vida individual
daqueles que os sobreviveram. Tudo isso permanece nos ciclos mutáveis e
imutáveis do tempo.
A
história dos grandes eventos é radical e revolucionária. Ela rasga as linhas
irregulares do tecido sem costuras de nosso mundo. E então a história das
coisas pequenas se reafirma. Ritmos e ciclos da vida resumem, conservadores e
cautelosos, a história das mães e da sequencia contínua, da costureira em sua
maquina, diligentemente costurando os rasgos irregulares, refazendo novamente o
tecido.
Talvez
haja uma terceira história, a história real: o crupiê do tempo, que pega essas
duas outras histórias, que as sacode como dois dados no copo e observa com
neutra indiferença as marés dos grandes eventos baterem caprichosamente nos
vasos das vidas individuais. E quem de nós se sente sortudo hoje? Faîtes vos
jeux.
Em
algum lugar dessa concatenação de eventos, grandes e pequenos, está a disposição
de todas as nossas vidas.”